terça-feira, 22 de novembro de 2011

O navegador solitário

O Navegador solitário

Dedicado a Manfred Marktel

As estradas do teu destino nas águas estão marcadas
e descrevem a linha infinita da espiral de um caracol...
Em tua casa flutuante, a Maus, um ventre de sonho constante,
és um marujo solitário,  habitado por tanto mar...

Mar do norte: horizonte, ímã dos sonhadores!
Âncora dos guerreiros, no desafio infinito de abraçar...
E só as velas, aliadas, testemunham as horas banhadas por lágrimas cheias de sal.

Ah, Mar do sul, ponta de uma espiral,cravada de lembranças,
com rabo de sereia, rosto de areia e coração matinal!
E na floresta dos seus cabelos, louva-se, em segredo,
a voz que também nos guia peloorvalho ancestral.

E nasce o mar do leste com roupa de campo, bordado em trigal,
discreto,um sorriso de viúva,  desenhado nas bolhas das longas espumas,
uma criança, coberta pela  aurora, a eterna escrivã da vida.

E o Tempo entoa a melopeia, levando o sol a dormir,
enquanto a noite declama sua ode, chamando os imortais,
que vêm  do Oeste, em curvas crepusculares,guiados pelas estrelas...

II
Nas águas, todos são iguais e só o mar é soberano.
Horizonte: braço estendido,de origem escondida,
apenas revelada aos navegadores,pois sabem  escutá-lo.
Lente do silêncio dos homens,com pérolas escondidas na bruma flexível,
tuguardas, na divisa , o ímã entre o céu e o mar:
força que também atrai e move aqueles que querem navegar...

III

E descobrir cores não reveladas,
imagens sempre guardadas, virgem a deflorar...
Davasta íris branca,nascem pinceladas,
obras jamais criadas por mãos mortais:
imponderável virtude de viver o natural.

Manfred,tu és um peixe a velejar, umsolitário a caminhar...
E do alarido distante, tu bordas, nas areias,a tua vida anfíbia:
entre as águas e o ar.

Por isso sinto quetu podes até  cantar:
- Sou um homem verdadeiro:
tirei meu coração das lágrimas
e sou inquilino das águas...

No que acreditei, está crido
no que sinto, não sou ferido,
apenas vivo  minha natureza:
sou um peixe a navegar!

Tenho velas que não calam,
e rimas que pulam das águas
trazendo-meo encanto da celeste sereia:
Sete dias ela é cheia,
sete dias passa minguante;
sete dias volta nova
e crescente pela areias...
Ela me traz a certeza
da vazante e maré cheia!


IV
Dentro do teu umbigo,há uma bússola solar.
 Poseidon é teu amigo,pois não se levanta como inimigo
elhe deixa navegar!

Ah, meu amigo!Cá pra minhas terras,
terias tu enredo com Iemanjá:
nascido de um dos seus seios,
filho ou marido, marujo ou carcará...

Sobre as águas tu revives
as memóriasdo mundo fundo.
Lembras-te? Tu és um peixe
traduzindo a expressão de tudo,
que um dia começou no  fundo, do fundo mar.

E eu que só tenho a poesia,
tento trazer para o meu diaa imensidão do teu caminhar:        

Sem a coragem tua viagem seria num aquário;
O céu é o novelo azul que te permite bordar;
E omar... O marépresença infinita, âncora para sonhar...
Nélio Silvério de Santana
Salvador, 16 de novembro de 2011




Um grilo contempla o sol branco e escuta o silêncio do mar

Um grilo contempla o sol branco e ouve o silêncio do mar

Dedico esta trilogia à Silvana Carvalho Pereira

Um grilo

Agora sou homem verdadeiro:
tirei meu coração das lágrimas.
Sou inquilino das folhas,
da felicidade sempre fugidia...
Mas de estátua ainda me faço,
perto  das mãos, dos cérebros de aço.
Olho de menino e cabeça de hidra,
boca de maré e alma sem ferida,
passando pelas ruas,
pelas vias escuras da vida.
No que acreditei, está crido
no que sinto, não sou ferido,
apenas vivo  minha natureza:
sou um grilo, tranquilo com o amanhecer!
Amigo das formigas e das gotas de orvalho...




O silêncio do mar


Lábios que não calam
a entoar a infinita canção,
Obrigado, por dar-me a fala,
no ato da minha oblação!

Ínfimo sei que sou,
diante da tua eternidade,
mas para ouvir-me tu te calastes,
mais um sinal da tua lealdade...

Meus versos são ecos longínquos,
cópia da tua dança com uma flor.
Mas Tumesmo me aceitastes:
fundamental é viver no amor

 Salvador, 12 de outubro de 2011




O sol branco

As rimas pulavam das águas
e vestiam o sol de branco,
águas que no céu flutuam
entre o mistério e o encanto.

Se ele que é rei se rendeu
ao manto da luz fria,
também eu vou tentando,
mas me refletindo em uma bacia...

Sete dias passo cheio,
sete dias passo minguante;
sete dias passo novo
e os demais dentro do ovo...

Salvador, 12 de outubro de 2011 ( Farol da Barra)

Ana Luz em Ramos

ANA LUZ EM RAMOS

Dedicado à querida Ana Lúcia Ramos



Somos velhos barqueiros
de águas transcendentes:
talvez de vidas passadas,
talvez de vida nascente.

Nascente desvelada
pelo sinal do poeta:
Blake unia num sonho
o céu e a porta aberta.

Meu silêncio foi desfolhado
na espiral da sabedoria
e minha lira saiu da noite,
debaixo da coberta fria,

Rodando de braços abertos
em plena luz do dia,
no êxtase do girassol,
da aurora à tardinha.

Era a proeza do destino,
no fascinante ardil do mistério:
na juventude nos conhecemos,
com reencontro no mundo dos sérios.

teu sorriso é um diário,
tuas mãos para mim um cajado!
Agradeço sempre a Deus
por ter-te ao meu lado.

                       

Guerreira Incansável

                                  Guerreira incansável

 

                    Dedicado à minha queridíssima mãe,

                                            Lindaura  Silvério de Sant'Anna

 

Os teus cabelos brancos se curvam diante da tua

prontidão  para as batalhas.


O amor e a sabedoria te fazem despertar a cada manhã, na  incerteza  natural da vida, disposta a transformar desertos em jardins.


Deus não nos permite dominar o mar,   nem os ventos, pois se assim o pudéssemos, infinitos colares de conchas, búzios, peixes e estrelas eu faria para brilhar, como um sol, em tua face matinal.


As conchas e búzios falariam, os peixes teriam vida eterna e as estrelas não cumpririam seus ciclos de vida e morte. Tudo estaria eternizado pelo teu amor.

Tua voz maternal alimenta nossas vidas no inconsútil fio do tempo, nas canções da labuta, na fé consciente e no árduo exercício que em ti tornou-se missão: viver para doar-se.

O tempo enfraquece teu corpo, mas renova o teu espírito de guerreira, de “Rainha dos Mistérios”.

De tanto te amar, sinto que não só meu corpo fora gerado em teu corpo, mas também o meu espírito em teu espírito.

Contenho minhas lágrimas, pois sei que quando partires, sobreviveremos pela eternidade.

Olho para o céu e percebo em cada estrela a esperança da tua chegada. Contemplo nas areias, a dança das conchas, búzios e peixes, todos conduzidos pelo horizonte da tua voz.

E por fim, olho pra minha existência que não se refrataria em arco-íris sem a tua presença infinita.

domingo, 20 de novembro de 2011

Dedicado a Manfred Marktel - "O Navegador solitário"

I

As estradas do teu destino nas águas estão marcadas
e descrevem a linha infinita da espiral de um caracol...
Em tua casa flutuante, a Maus, um ventre de sonho constante,
és um marujo solitário, habitado por tanto mar...

Mar do norte: horizonte, ímã dos sonhadores!
Âncora dos guerreiros, no desafio infinito de abraçar...
E só as velas, aliadas, testemunham as horas banhadas por lágrimas cheias de sal.

Ah, Mar do sul, ponta de uma espiral, cravada de lembranças,

com rabo de sereia, rosto de areia e coração matinal! E na floresta dos seus cabelos, louva-se, em segredo,
a voz que também nos guia pelo orvalho ancestral.

E nasce o mar do leste com roupa de campo, bordado em trigal,
discreto, um sorriso de viúva, desenhado nas bolhas das longas espumas,
uma criança, coberta pela aurora, a eterna escrivã da vida.
E o Tempo entoa a melopéia, levando o sol a dormir,
enquanto a noite declama sua ode, chamando os imortais,
que vêm do Oeste, em curvas crepusculares, guiados pelas estrelas...

II

Nas águas, todos são iguais e só o mar é soberano.
Horizonte: braço estendido, de origem escondida,
apenas revelada aos navegadores, pois sabem escutá-lo.
Lente do silêncio dos homens, com pérolas escondidas na bruma flexível,
tu guardas, na divisa, o ímã entre o céu e o mar:
força que também atrai e move aqueles que querem navegar...
III

E descobrir cores não reveladas,
imagens sempre guardadas, virgem a deflorar...
Da vasta íris branca, nascem pinceladas,
obras jamais criadas por mãos mortais:
imponderável virtude de viver o natural.

Manfred, tu és um peixe a velejar, um solitário a caminhar...
E do alarido distante, tu bordas, nas areias, a tua vida anfíbia:
entre as águas e o ar.
Por isso sinto que tu podes até cantar:
- Sou um homem verdadeiro:
tirei meu coração das lágrimas
e sou inquilino das águas...

No que acreditei, está crido
no que sinto, não sou ferido,
apenas vivo minha natureza:
sou um peixe a navegar!

Tenho velas que não calam,
e rimas que pulam das águas
trazendo-me o encanto da celeste sereia:
Sete dias ela é cheia,
sete dias passa minguante;
sete dias volta nova
e crescente pela areias...
Ela me traz a certeza
da vazante e maré cheia!

IV

Dentro do teu umbigo há uma bússola solar.
Poseidon é teu amigo, pois não se levanta como inimigo
e lhe deixa navegar!

Ah, meu amigo! Cá pra minhas terras,
terias tu enredo com Iemanjá:
nascido de um dos seus seios,
filho ou marido, marujo ou carcará...

Sobre as águas tu revives
as memórias do mundo fundo.
Lembras-te? Tu és um peixe
traduzindo a expressão de tudo,
que um dia começou no fundo, do fundo mar.

E eu que só tenho a poesia,
tento trazer para o meu dia a imensidão do teu caminhar.

Sem a coragem, tua viagem seria num aquário.
O céu é o novelo azul que te permite bordar;
E o mar... O mar é presença infinita, âncora para sonhar...


Nélio Silvério de Santana
Salvador, 16 de novembro de 2011
Esta poesia está postada no site e no blog de Manfred Marktel
www.manfredmarktel.it
www.manfredmarktel.blogspot.com

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dedicada a Silvana C. Pereira

UM GRILO CONTEMPLA O SOL BRANCO E OUVE O SILÊNCIO DO MAR

UM GRILO

Agora sou homem verdadeiro:
tirei meu coração das lágrimas.
Sou inquilino das folhas,
da felicidade sempre fugidia...

Mas de estátua ainda me faço,
perto das mãos, dos cérebros de aço.
Olho de menino e cabeça de hidra,
boca de maré e alma sem ferida,
passando pelas ruas,
pelas vias escuras da vida.

No que acreditei, está crido
no que sinto, não sou ferido,
apenas vivo minha natureza:
sou um grilo, tranquilo com o amanhecer!
Amigo das formigas e das gotas de orvalho...

O SILÊNCIO DO MAR

Lábios que não calam
a entoar a infinita canção,
Obrigado, por dar-me a fala,
no ato da minha oblação!

Ínfimo sei que sou,
diante da tua eternidade,
mas para ouvir-me tu te calastes,
mais um sinal da tua lealdade...

Meus versos são ecos longínquos,
cópia da tua dança com uma flor.
Mas Tu mesmo me aceitastes:
fundamental é viver no amor

O SOL BRANCO

As rimas pulavam das águas
e vestiam o sol de branco,
águas que no céu flutuam
entre o mistério e o encanto.

Se ele que é rei se rendeu
ao manto da luz fria,
também eu vou tentando,
mas me refletindo em uma bacia...

Sete dias passo cheio,
sete dias passo minguante;
sete dias passo novo
e os demais dentro do ovo...

Nélio Silvério
Salvador, 12 de outubro de 2011 ( Farol da Barra)