I
As estradas do teu destino nas águas estão marcadas
e descrevem a linha infinita da espiral de um caracol...
Em tua casa flutuante, a Maus, um ventre de sonho constante, és um marujo solitário, habitado por tanto mar...
Mar do norte: horizonte, ímã dos sonhadores!
Âncora dos guerreiros, no desafio infinito de abraçar...
E só as velas, aliadas, testemunham as horas banhadas por lágrimas cheias de sal.
Ah, Mar do sul, ponta de uma espiral, cravada de lembranças,
com rabo de sereia, rosto de areia e coração matinal! E na floresta dos seus cabelos, louva-se, em segredo,
a voz que também nos guia pelo orvalho ancestral.
E nasce o mar do leste com roupa de campo, bordado em trigal,
discreto, um sorriso de viúva, desenhado nas bolhas das longas espumas,
uma criança, coberta pela aurora, a eterna escrivã da vida.
E o Tempo entoa a melopéia, levando o sol a dormir,
enquanto a noite declama sua ode, chamando os imortais,
que vêm do Oeste, em curvas crepusculares, guiados pelas estrelas...
II
Nas águas, todos são iguais e só o mar é soberano.
Horizonte: braço estendido, de origem escondida,
apenas revelada aos navegadores, pois sabem escutá-lo.
Lente do silêncio dos homens, com pérolas escondidas na bruma flexível,
tu guardas, na divisa, o ímã entre o céu e o mar:
força que também atrai e move aqueles que querem navegar... III
E descobrir cores não reveladas,
imagens sempre guardadas, virgem a deflorar...
Da vasta íris branca, nascem pinceladas,
obras jamais criadas por mãos mortais:
imponderável virtude de viver o natural.
Manfred, tu és um peixe a velejar, um solitário a caminhar...
E do alarido distante, tu bordas, nas areias, a tua vida anfíbia:
entre as águas e o ar.
Por isso sinto que tu podes até cantar:
- Sou um homem verdadeiro:
tirei meu coração das lágrimas
e sou inquilino das águas...
No que acreditei, está crido
no que sinto, não sou ferido,
apenas vivo minha natureza:
sou um peixe a navegar!
Tenho velas que não calam,
e rimas que pulam das águas
trazendo-me o encanto da celeste sereia:
Sete dias ela é cheia,
sete dias passa minguante;
sete dias volta nova
e crescente pela areias...
Ela me traz a certeza
da vazante e maré cheia!
IV
Dentro do teu umbigo há uma bússola solar.
Poseidon é teu amigo, pois não se levanta como inimigo
e lhe deixa navegar!
Ah, meu amigo! Cá pra minhas terras,
terias tu enredo com Iemanjá:
nascido de um dos seus seios,
filho ou marido, marujo ou carcará...
Sobre as águas tu revives
as memórias do mundo fundo.
Lembras-te? Tu és um peixe
traduzindo a expressão de tudo,
que um dia começou no fundo, do fundo mar.
E eu que só tenho a poesia,
tento trazer para o meu dia a imensidão do teu caminhar.
Sem a coragem, tua viagem seria num aquário.
O céu é o novelo azul que te permite bordar;
E o mar... O mar é presença infinita, âncora para sonhar...
Nélio Silvério de Santana
Salvador, 16 de novembro de 2011
Esta poesia está postada no site e no blog de Manfred Marktel
www.manfredmarktel.it
www.manfredmarktel.blogspot.com
As estradas do teu destino nas águas estão marcadas
e descrevem a linha infinita da espiral de um caracol...
Em tua casa flutuante, a Maus, um ventre de sonho constante, és um marujo solitário, habitado por tanto mar...
Mar do norte: horizonte, ímã dos sonhadores!
Âncora dos guerreiros, no desafio infinito de abraçar...
E só as velas, aliadas, testemunham as horas banhadas por lágrimas cheias de sal.
Ah, Mar do sul, ponta de uma espiral, cravada de lembranças,
com rabo de sereia, rosto de areia e coração matinal! E na floresta dos seus cabelos, louva-se, em segredo,
a voz que também nos guia pelo orvalho ancestral.
E nasce o mar do leste com roupa de campo, bordado em trigal,
discreto, um sorriso de viúva, desenhado nas bolhas das longas espumas,
uma criança, coberta pela aurora, a eterna escrivã da vida.
E o Tempo entoa a melopéia, levando o sol a dormir,
enquanto a noite declama sua ode, chamando os imortais,
que vêm do Oeste, em curvas crepusculares, guiados pelas estrelas...
II
Nas águas, todos são iguais e só o mar é soberano.
Horizonte: braço estendido, de origem escondida,
apenas revelada aos navegadores, pois sabem escutá-lo.
Lente do silêncio dos homens, com pérolas escondidas na bruma flexível,
tu guardas, na divisa, o ímã entre o céu e o mar:
força que também atrai e move aqueles que querem navegar...
E descobrir cores não reveladas,
imagens sempre guardadas, virgem a deflorar...
Da vasta íris branca, nascem pinceladas,
obras jamais criadas por mãos mortais:
imponderável virtude de viver o natural.
Manfred, tu és um peixe a velejar, um solitário a caminhar...
E do alarido distante, tu bordas, nas areias, a tua vida anfíbia:
entre as águas e o ar.
Por isso sinto que tu podes até cantar:
- Sou um homem verdadeiro:
tirei meu coração das lágrimas
e sou inquilino das águas...
No que acreditei, está crido
no que sinto, não sou ferido,
apenas vivo minha natureza:
sou um peixe a navegar!
Tenho velas que não calam,
e rimas que pulam das águas
trazendo-me o encanto da celeste sereia:
Sete dias ela é cheia,
sete dias passa minguante;
sete dias volta nova
e crescente pela areias...
Ela me traz a certeza
da vazante e maré cheia!
IV
Dentro do teu umbigo há uma bússola solar.
Poseidon é teu amigo, pois não se levanta como inimigo
e lhe deixa navegar!
Ah, meu amigo! Cá pra minhas terras,
terias tu enredo com Iemanjá:
nascido de um dos seus seios,
filho ou marido, marujo ou carcará...
Sobre as águas tu revives
as memórias do mundo fundo.
Lembras-te? Tu és um peixe
traduzindo a expressão de tudo,
que um dia começou no fundo, do fundo mar.
E eu que só tenho a poesia,
tento trazer para o meu dia a imensidão do teu caminhar.
Sem a coragem, tua viagem seria num aquário.
O céu é o novelo azul que te permite bordar;
E o mar... O mar é presença infinita, âncora para sonhar...
Nélio Silvério de Santana
Salvador, 16 de novembro de 2011
Esta poesia está postada no site e no blog de Manfred Marktel
www.manfredmarktel.it
www.manfredmarktel.blogspot.com
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